sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pomar de Pessegueiros Floridos...

"Encontro-me muito bem desde há dias, salvo um certo fundo de vaga tristeza, difícil de definir - mas enfim - recobrei forças físicas em vez de as perder e trabalho.
Tenho justamente sobre o cavalete um pomar de pessegueiros floridos à beira de um caminho, com os Alpes ao fundo.
(...)
Felizmente, o tempo está bom e o sol radiante; a gente daqui não tarda a esquecer-se momentaneamente das suas penas e então resplandece de animação e ilusões.
Reli nestes dias os Contos de Natal, de Dickens, onde há coisas profundas que convém ler a miúdo; tem enormes conexões com Carlyle.
Roulin, se bem que não seja bastante velho para ser para mim como um pai, tem no entanto severidades silenciosas e ternuras como teria um velho soldado para um novato.
Sempre - mas sem uma palavra - um não sei quê que parece querer dizer: não sabemos o que nos sucederá amanhã. Mas, seja o que for, pensa em mim. Isto ajuda quando vem de um homem que não é nem azedo, nem triste, nem perfeito, nem feliz, nem sempre irreperensivelmente justo. Mas tão bom rapaz e tão cordato e tão inquieto e tão crente.
(...)".
Vincente Van Gogh - Cartas a Theo (Barral Ed. - Barcelona - pp. 328-329

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