terça-feira, 18 de agosto de 2009

Páginas Excepcionais # 2 "a pérola"


Acabei de ler há poucos dias, pela terceira ou quarta vez, A Pérola, de John Steinbeck, que como consta da contracapa do livro é baseada num conto popular mexicano. De acordo com o escrito na mesma contracapa a pérola constitui uma parábola poética sobre as grandezas e as misérias do mundo contraditório em que vivemos.
É a história comovente de uma pérola enorme, de como foi descoberta e de como foi reposta no lugar a que pertencia ... levando com ela os sonhos bons e maus que representava e incutia nos homens.
É também a história de uma família e da especial ligação e solidariedade entre uma mulher (Juana), um pescador pobre (Kino) e o filho de ambos (Coyotito).


Do belíssimo livro deixo aqui registados três pequenos trechos:


"Foi a espingarda que quebrou as barreiras. Era uma coisa inconcebível, mas, se podia pensar em possuir uma espingarda abriam-se diante de si novos horizontes e podia avançar para eles. porque é sabido que os homens nunca estão satisfeitos, dá-se-lhes uma coisa e eles querem sempre qualquer coisa mais. Diz-se isto como se fosse um defeito, quando é um dos grandes talentos que a espécie possui e aquele que a tornou suspeiror aos outros animais, que estão sempre satifeitos com aquilo que têm."

" E a beleza da pérola, que brilhava e cintilava à luz da pequena vela, perturbou o seu cérebro. Era tão bela, tão macia, desprendia-se dela uma música propria - a sua música de promessas e delícias, a sua garantia de futuro, de conforto, de segurança. O seu brilho qunte prometia um remédio contra a doença e uma muralha contra os insultos. Fechava a porta à fome. Ao olhar para ela, os olhos de Kino adoçaram-se e o seu rosto descontraiu-se. Viu a pequena imagem da vela consagrada reflectida na superfície lisa da pérola e voltou a escutar a música maravilhosa do mar, o tom da luz verde, difusa, do fundo do mar. Juana, espreitando o seu rosto, viu-o sorrir. E porque, de certa forma, eles eram um só com uma só vontade, sorriu com ele. E principiaram aquele dia com esperança."

" Toda a gente em la paz se lembra do regresso da família.
(...).
Saíram da estrada sulcada que ligava o campo à cidade e não caminhavam como era habitual, Kino à frente e Juana atrás - vinham lado a lado. O Sol punha-se por trás deles e as suas longas sombras estendiam-se à sua frente, de modo que pareciam trazer com eles duas torres de escuridão. Kino transportava uma espingarda sobre o braço e Juana levava o xaile, sobre o ombro, como um saco. Dentro dele havia uma pequena trouxa, mole e pesada. O xaile estava manchado de sangue seco e a trouxa oscilava um pouco enquanto ela andava. O seu rosto estava endurecido, enrugado e curtido pela fadiga e pela tensão com que ela combatia a fadiga. Os seus grandes olhos encontravam-se voltados para dentro de si mesma. Estava tão distante, tão longínqua como o céu. Kino tinha os lábios cerrados e as mandíbulas apertadas e as pessoas dizem que ele metia medo, que parecia tão perigoso como uma tempestade iminente. As pessoas dizem que eles nem pareciam humanos; que pareciam ter atravessado o sofrimento e saído do outro lado; que havia como que uma protecção mágica em volta deles. As pessoas que haviam acorrido para vê-los recuaram, deixaram-nos passar e nem falaram com eles."

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