segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

ano velho... ano novo


dois olhares
duas visões
dois tempos
duas luzes
atrás
à frente
dentro
fora
ontem
hoje...

domingo, 30 de dezembro de 2012

convicção


 
“Uma pessoa com convicção tem a força equivalente a 100 mil que tenham interesses apenas.”
John Stuart Mill.

azul descoberto



céu claro dentro do
nevoeiro branco
nos montes
fumo de madeira cheia de sol
no cinzento claro deste dia

espero o azul
o apartar do fumo 
o sol 

é inverno nos montes...

PM

sábado, 29 de dezembro de 2012

Da memória que fica delas




Em bando passam aves e eu voando vou com elas
Mas assim que aterro e quebro as asas
Recolho-me à sombra, que não das aves,
Das aves não
Mas da memória que fica delas
Passam lestas chilreando leves
E minh´alma, ninfa triste em seu novelo,
Fica só daqui a vê-lo
O bando não
Mas o que fica de passarem aves.

Arménio Vieira

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Não sei se afirmo ou pergunto



Estar à janela a olhar para fora não é já um olhar por dentro
de nos passearmos por fora.

PM

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Limites

 



Quem disse alguma vez: até aqui a sede,
até aqui a água?

Quem disse alguma vez: até aqui o ar,
até aqui o fogo?

Quem disse alguma vez: até aqui o amor,
até aqui o ódio?

Quem disse alguma vez: até aqui o homem,
até aqui não?

Só a esperança tem os joelhos nítidos.
Sangram.

Juan Gelman

Que jovens éramos!




 
 
 
«A época não era melhor, nós é que tínhamos juventude.»
 
Dinis Machado.
 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Caminhos para 2013



À venda na Zona Euro...

Poemas de outra estação



Desejos de hoje...

lavar o mundo



 
hoje chove muito, muito,
dir-se-ia que estão a lavar o mundo.
o meu vizinho do lado vê a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor /
uma carta à mulher com quem vive
e lhe faz a comida e lava a roupa e faz amor com ele
e se parece com a sua sombra /
o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher /
entra em casa pela janela e não pela porta /
por uma porta entra-se em muitos sítios /
no trabalho, no quartel, na prisão,
em todos os edifícios do mundo /
mas não no mundo /
nem numa mulher /
nem na alma /
quer dizer /

nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim /
como hoje /
que chove muito /
e me custa escrever a palavra amor /
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa /
e só a alma sabe onde as duas se encontram /
e quando /
e como /
mas que pode a alma explicar /

por isso o meu vizinho tem tempestades na boca /
palavras que naufragam /
palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na
mesma noite em que ele amou /
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá /
como o silêncio que existe entre duas rosas /
ou como eu / que escrevo palavras para regressar
ao meu vizinho que vê a chuva /
e à chuva /
ao meu coração desterrado /


juan gelman
“no avesso do mundo”
trad. colectiva da casa de mateus
revista por ana luísa amaral
quetzal
1998