sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bailarina Espanhola

Como um fósforo na mão, branco,
antes de se inflamar, expele
para os lados línguas palpitantes-:
começa na roda estreita dos que vêem,
rápida, clara e quente,
a alargar-se fremente a dança redonda.

E de repente faz-se chama toda inteira.

Com o olhar deita fogo à cabeleira
e súbito faz girar com arte ousada
todo o vestido dentro deste incêndio,
do qual, como serpentes assustadas,
saltam os braços nus, vivos e casacalhantes.

Depois, como se o fogo amortecesse,
junta-o todo e atira-o para longe,
imperiosa e com gesto altivo,
e olha: ei-lo furioso em terra
a chamejar ainda, e não se rende -.
Mas triunfante, segura e com um doce
sorrir de cortesia, ergue o rosto
e apaga-o com pés firmes e pequenos.

Rainer Maria Rilke, Poemas - As Elegias de Duino e sonetos a Orfeu

Sem comentários: