segunda-feira, 29 de julho de 2013

invenções




No verão fazemos espigas de amor maduras.
PM

sábado, 13 de julho de 2013

mães



As mães ajoelham frente à dor
e sangram dos joelhos por toda a eternidade.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

nos olhos a saudade



Na minha aldeia há andorinhas que brincam
de vôo baixo
em tardes secas e sanguíneas.

Na minha aldeia há uma luz inesquecível
que é alegria na primeira idade
e consolo de cores nas folhas outonais.

Na minha aldeia há um rio de água lavada
nos açudes
pelas lavadeiras da memória.

Vou partir
levo no rosto luz
nos olhos água lavada
e disfarçados nos bolsos os ninhos das andorinhas
para que à noite
após o último vôo
não sintam saudades dos beirais.

PM

S/ título


procuro-te incansavelmente
como O Deus prometido
nas pedras
nos pássaros
no azul
nas estrelas
no livro fechado
no amigo recente.

Estou com os olhos pregados no horizonte
aproxima-se o pôr do sol derradeiro
espero
tudo compreender
como O Deus cumprido
e então não mais falarei
porque nada haverá para contar.


silencío
a súplica que há na fé.

PM

quinta-feira, 11 de julho de 2013

descobrir


Menino e pássaro - Simone Martins


O menino irritado gritava
- cala-te ó piça!
- cala-te ó piça!
- cala-te ó piça!

A menina/mulher
- então!?

silêncio...

agora já podes descobrir
palavras inocentes
como mãe, água, sol.

divertidas
como baloiço, bola, recreio.

palavras que fogem
como pássaro, vento, mar.

e mais tarde
palavras alegres
como festa, riso, cumplicidade.

ainda mais tarde
mas logo de seguida
palavras quentes
como pele, língua, lambe rosa.

e palavras dolorosas
como paixão, culpa, partir.

e só quando indispensável
palavras obscenas
como oportunista, poder, violência...

e nunca
palavras malditas
como ditadura, violação, escravatura...

PM

quarta-feira, 10 de julho de 2013

treinar os silêncios



Hoje espero-te
há muitas horas
podia dizer-se que estou a caminhar por dentro da tua ausência.
os transeuntes que passam
vêm a minha fé
e pensam em dar-me palavras
para escrever uma carta de amor.
uma carta onde veja as tuas asas
quando te incendeias na madrugada
ou em que visto as tuas pernas
e ardo nas tuas veias.
Mas, os transeuntes não sabem
que as palavras são uma coisa
e uma carta de amor outra
e só a labareda no coração
as pode ligar.

Hoje a tua ausência aconselha-me
a escrever cartas de amor sem destinatário
para treinar os silêncios
com que te hei-de amar.

PM