sábado, 29 de agosto de 2009

Desconstruções * 5 / moínhos de vento

Poderão os moínhos de vento levantar vôo?

Profecia de ilusões * 5 / os amantes

Magritte - Os amantes

Os amantes incendiavam-se se nos seus olhos passasse um teletexto.

Desconstruções * 4/ O Fogo


Será o fogo a paixão das árvores?

Profecia de ilusões * 4/ as nozes e os dentes


As nozes e os dentes só se juntam quando Deus está ausente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Profecia de ilusões * 3 / A Caravela

A Caravela é o sonho de viajar ao coração de um povo com nome de Portugal.

Profecia de ilusões * 2/ Os frutos


Os frutos têm corações de promessas.

Desconstruções * 3/ quartos de lua


Poderão os quartos de lua aprisionar o sol?

Profecia de ilusões *1/ A língua do vento


Só as folhas das árvores falam a língua do vento.

Desconstruções * 2 / A chuva


Cai água do céu, estarão os bombeiros a apagar fogo nas nuvens?

Desconstruções * 1/ Cinza


Há cinza no céu, estarão as nuvens incendiadas?

sábado, 22 de agosto de 2009

Páginas excepcionais # 4 "a aparição do eu"


«No outro dia, assim que me levantei, coloquei-me no sítio donde me vira no espelho e olhei. Diante de mim estava uma pessoa que me fitava como uma inteira individualidade que vivesse em mim e que eu ignorava. Aproximei-me, fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobria qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo. Quantas vezes mais tarde eu repetirira a experiência do desejo de fixar essa aparição fulminante de mim a mim próprio, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me anunciava.»

Virgílio Ferreira, in Aparição, Portugália Editora, PP. 76 e 77

Páginas excepcionais # 3 " A Serpente"


«Diz-me também que a cor simboliza a alegria da criação. - Imagina o Adão quando viu o ceú azul pela primeira vez! Ou a Eva, quando segurou na mão aquela maça vermelha!
- A Eva fez mal em ter comido a maçã? - É uma pergunta que há muito me apetece fazer-lhe.
- Não, não, não. Se ela não tivesse comido a maça, nunca teríamos saído do Paraíso, e os homens e as mulheres nunca saberiam que havia um mundo à sua volta, nem teriam qualquer consciência de si próprios. De qualquer forma, a Eva não fez nada que nós todos não façamos.
- Não?
- Todos nós, ao longo da vida, damos uma mordida nessa maçã no momento anterior àquele em que nos reconhecemos pela primeira vez no espelho. Todoas somos Eva, tal como todos somos Adão. E, enquanto mastigamos a maçã, dizemos para nós próprios:
- Eu existo, e sou separado de Deus.
- Então a serpente não é o mal?
- Não, a serpente é a eternidade, a centelha de eternidade que tem origem na terra e que dá início ao fogo... ao incêndio dentro de cada un de nós. A serpente é a vida a reconhecer-se a si própria, e a saber que temos muito trabalho a fazer enquanto aqui estamos. Lembra-te de que as únicas mãos e os únicos olhos que Deus tem são os nossos.
- Então porque é que as pessoas acham que a serpente é o mal?
- Porque acham que o mundo é feito de prosa, quando é feito de poesia.»

Richard Zimler, in A Sétima Porta, pp. 425 e 426.
Pintura: Colheita de maçãs. Carl Larsson

Pensamentos de frutos


«Os frutos gostam que lhes pintem o retrato. Parecem ficar ali, a pedir desculpa por irem secando. Os perfumes que exalam trazem-nos os seus pensamentos. Chegam-nos com todas as suas fragrâncias, falam-nos dos campos que deixaram para trás, da chuva que os alimentou, das alvoradas que testemunharam.»

Citação de Cézanne.
Cézanne, Natureza morta
Óleo sobre tela, 65,5 x 81,5 cm
Venturi 598; colecção particular cedida ao Kunstaus Zürich, Zurique

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Passagem


O êxtase do ar e a palavra do vento
Povoaram de ti meu pensamento.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Mar Novo
A Minha Pátria


«Há países, há rios, mas a minha pátria está nos teus olhos.
Eu caminho por eles.
Para onde quer que eu vá.»

Pablo Neruda, in Os versos do capitão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dia Mundial da Fotografia

Foto de Sebastião Salgado

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Páginas Excepcionais # 2 "a pérola"


Acabei de ler há poucos dias, pela terceira ou quarta vez, A Pérola, de John Steinbeck, que como consta da contracapa do livro é baseada num conto popular mexicano. De acordo com o escrito na mesma contracapa a pérola constitui uma parábola poética sobre as grandezas e as misérias do mundo contraditório em que vivemos.
É a história comovente de uma pérola enorme, de como foi descoberta e de como foi reposta no lugar a que pertencia ... levando com ela os sonhos bons e maus que representava e incutia nos homens.
É também a história de uma família e da especial ligação e solidariedade entre uma mulher (Juana), um pescador pobre (Kino) e o filho de ambos (Coyotito).


Do belíssimo livro deixo aqui registados três pequenos trechos:


"Foi a espingarda que quebrou as barreiras. Era uma coisa inconcebível, mas, se podia pensar em possuir uma espingarda abriam-se diante de si novos horizontes e podia avançar para eles. porque é sabido que os homens nunca estão satisfeitos, dá-se-lhes uma coisa e eles querem sempre qualquer coisa mais. Diz-se isto como se fosse um defeito, quando é um dos grandes talentos que a espécie possui e aquele que a tornou suspeiror aos outros animais, que estão sempre satifeitos com aquilo que têm."

" E a beleza da pérola, que brilhava e cintilava à luz da pequena vela, perturbou o seu cérebro. Era tão bela, tão macia, desprendia-se dela uma música propria - a sua música de promessas e delícias, a sua garantia de futuro, de conforto, de segurança. O seu brilho qunte prometia um remédio contra a doença e uma muralha contra os insultos. Fechava a porta à fome. Ao olhar para ela, os olhos de Kino adoçaram-se e o seu rosto descontraiu-se. Viu a pequena imagem da vela consagrada reflectida na superfície lisa da pérola e voltou a escutar a música maravilhosa do mar, o tom da luz verde, difusa, do fundo do mar. Juana, espreitando o seu rosto, viu-o sorrir. E porque, de certa forma, eles eram um só com uma só vontade, sorriu com ele. E principiaram aquele dia com esperança."

" Toda a gente em la paz se lembra do regresso da família.
(...).
Saíram da estrada sulcada que ligava o campo à cidade e não caminhavam como era habitual, Kino à frente e Juana atrás - vinham lado a lado. O Sol punha-se por trás deles e as suas longas sombras estendiam-se à sua frente, de modo que pareciam trazer com eles duas torres de escuridão. Kino transportava uma espingarda sobre o braço e Juana levava o xaile, sobre o ombro, como um saco. Dentro dele havia uma pequena trouxa, mole e pesada. O xaile estava manchado de sangue seco e a trouxa oscilava um pouco enquanto ela andava. O seu rosto estava endurecido, enrugado e curtido pela fadiga e pela tensão com que ela combatia a fadiga. Os seus grandes olhos encontravam-se voltados para dentro de si mesma. Estava tão distante, tão longínqua como o céu. Kino tinha os lábios cerrados e as mandíbulas apertadas e as pessoas dizem que ele metia medo, que parecia tão perigoso como uma tempestade iminente. As pessoas dizem que eles nem pareciam humanos; que pareciam ter atravessado o sofrimento e saído do outro lado; que havia como que uma protecção mágica em volta deles. As pessoas que haviam acorrido para vê-los recuaram, deixaram-nos passar e nem falaram com eles."

domingo, 16 de agosto de 2009

Páginas excepcionais # 1 "a beleza..."

Pierre-Auguste Renoir

" Nesse dia, o Síndico sentia-se feliz com uma proeza mais rara do que as outras: a flor, branca e violácea, quase tinha as estrias de um lírio. Considerou-a voltando-a em todos os sentidos e, pousando-a aos seus pés:
- Deus - disse ele - é um grande pintor.
Cornélius Berg não respondeu. E o plácido velhote continuou:
- Deus é o pintor do universo.
Cornélius Berg fitava alternadamente a flor e o canal. Aquele espelho baço e plúmbeo apenas reflectia canteiros, muros de tijolos e algum estendal, mas o velho vagabundo cansado contemplava vagamente nele toda a sua vida. Revia certos traços fisionómicos que avistara nas suas longas viagens, o Oriente Sórdido, o Sul desbragado, expressões de avareza, de estupidez ou de ferocidade registadas sob tão brandos céus, os tugúrios miseráveis, as doenças venéreas, as brigas à facada à porta das tabernas, o rosto seco dos penhoristas e o belo corpo abundante do seu modelo, Frederica Gerritsdochter, deitado na mesa de anatomia da escola de medicina de Friburgo. Depois ocorreu-lhe uma lembrança. Em Constantinopla, onde pintara alguns retratos de Sultões para o embaixador das Províncias Unidas, tivera o ensejo de admirar um outro jardim de túlipas, orgulho e alegria de um paxá que confiava no pintor para imortalizar, na sua breve perfeição, o seu harém floral. Encerradas num pátio de mármore, dir-se-ia que as túlipas congregadas palpitavam e sussurravam no brilho ou na macieza das cores. Na bacia de um repuxo cantava um pássaro; os bicos dos ciprestes rompiam o céu palidamente azul. Mas o escravo que por ordem do seu senhor mostrava ao forasteiro aquelas maravilhas era zarolho, e sobre a vista que perdera há pouco amontoavam-se as moscas. Cornélius Berg suspirou longamente. Então, tirando os óculos:
- Deus é o pintor do universo.
E, com amargura, em voz baixa:
- Pena é, senhor Síndico, que Deus não se tenha limitado a pintar paisagens."

Excerto do Conto: A Tristeza de Cornélius Berg, in Marguerite Yourcenar, Contos Orientais

O ceifeiro nos trigais amarelos


Setembro de 1889.
"Meu querido irmão - sempre te escrevo em intervalos de trabalho -, trabalho como um verdadeiro possesso, com um furor surdo, trabalho mais do que nunca. Creio que isto contribuirá para me curar.
Talvez me aconteça aquilo que conta Delacroix: «encontrei a pintura quando não tinha nem dentes nem alento», no sentido de que a minha triste enfermidade me faz trabalhar com um furor surdo - muito lentamente - mas desde a manhã até à tarde sem afrouxar e - aí está provavelmente o segredo - trabalhar largo tempo e lentamente. Que sei eu, mas creio que tenho uma ou duas telas em preparação, que não estão muito mal; para começar, o ceifeiro nos trigais amarelos e o retrato sobre fundo claro (...).
Uf!... O ceifeiro está terminado; creio que este será um dos que guardarás para ti - é uma imagem da morte, tal como nos fala no grande livro da natureza (...). É todo amarelo, salvo uma linha de colinas violeta, de um amarelo pálido e vermelho. Isso diverte-me, depois de o ter visto assim através das grades de ferro de uma casa de loucos.
Vincent Van Gogh - cartas a Theo - Barral Ed. - Barcelona - pp. 354-355.
Van Gogh - Campo de trigo com ceifeiro.
(Fundação Vincent Van Gogh - Amesterdão)

sábado, 15 de agosto de 2009

Loucura II

Sentado numa árvore-anfiteatro,
com chapéus de acúcar aglomerado
e fatos de chocolate consistente,
estava um exército de meninos amarelos.

Tocavam
nos seus intrumentos de guerra
"Tristão e Isolda"
de Richard Wagner.

Os pássaros-laranja
e os pássaros- abacaxi
disparavam trinados e arrulhos
que atingiam Wagner em cheio.

As folhas das árvores
nos melhores vestidos de outono
dançavam
com sapatos de algodão doce
e sonhavam casar com o vento
que lhes servia de par.

Foto: Sandy Skoglund.

Loucura de fim de tarde


Vinha para casa
quando vi nos meus ossos
transparentes
uma fome medonha.

Comi do canto dos pássaros
que pastavam na relva
desenhada nas nuvens.

Bebi das cores do jardim
suspenso
no quarto de lua.

Saciada a fome
fiquei a ouvir o aroma
das pétalas das Abelhas.

Pela hora do sono
meus pés calcavam nevoeiros
e a cabeça era leve e colorida
como bolas de sabão.

Foto: A Loucura de Sandy Skoglund

A janela

Olhei pela janela ao raiar do dia e vi
uma jovem macieira, diáfana no meio da luz.

Quando olhei de novo ao raiar do dia lá estava
uma grande macieira, carregada de fruto.

Poema: Czeslaw Milosz .
Pintura: Piet Mondrian, Macieira em Flor.

Menino do bairro negro



Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar .(bis)

Menino sem condição
irmão de todos os nus
tira os olhos do chão
vem ver a luz.

Menino do mal trajar
um novo dia lá vem
só quem souber cantar
virá também.

Negro, bairro negro
bairro negro
onde não há pão
não há sossego.

Menino pobre, o teu lar
queira ou não queira o papão
há-de um dia cantar
esta canção.

Olha o sol que vai nascendo
anda ver o mar
os meninos vão correndo
ver o sol chegar .(bis)

Se até dá gosto cantar
se toda a terra sorri
quem te não há-de amar
menino a ti.

Se não é fúria a razão
se toda a gente quiser
um dia hás-de aprender
haja o que houver.

Negro, bairro negro
bairro negro
onde não há pão
não há sossego.

Menino pobre, o teu lar
queira ou não queira o papão
há-de um dia cantar
esta canção

Olha o sol que vai nascendo
anda ver o mar
os meninos vão correndo
ver o sol chegar (bis).

Letra: Zeca Afonso.
Foto de Eduardo Teixeira Pinto

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Trigo Amarelo

Amadureço no meio da seara.
Sinto o amarelo a pintar-me a seiva
como nuvem de palha.

É bom ser trigo
estar ao sol
amadurecer na seara.

Não me inquieto
com as pintas de verde
com o céu azul
com as raízes escuras.

Sei que sou trigo
estou ao sol
e amadureço na seara.

Não tenho dúvidas
nem incertezas
nem ansiedades
serei amarelo trigo
amadurecido na seara..

Pintura: Campo de trigo e ceifeiro - Van Gogh

madrugada de luz...

Dai-me uma fonte de água
branca
tão branca
que em lençol a use na cama
de nascer
para refrescar a dor
numa madrugada de luz.
(dedicado à minha irmã Mariquinha)

Pomar de Pessegueiros Floridos...

"Encontro-me muito bem desde há dias, salvo um certo fundo de vaga tristeza, difícil de definir - mas enfim - recobrei forças físicas em vez de as perder e trabalho.
Tenho justamente sobre o cavalete um pomar de pessegueiros floridos à beira de um caminho, com os Alpes ao fundo.
(...)
Felizmente, o tempo está bom e o sol radiante; a gente daqui não tarda a esquecer-se momentaneamente das suas penas e então resplandece de animação e ilusões.
Reli nestes dias os Contos de Natal, de Dickens, onde há coisas profundas que convém ler a miúdo; tem enormes conexões com Carlyle.
Roulin, se bem que não seja bastante velho para ser para mim como um pai, tem no entanto severidades silenciosas e ternuras como teria um velho soldado para um novato.
Sempre - mas sem uma palavra - um não sei quê que parece querer dizer: não sabemos o que nos sucederá amanhã. Mas, seja o que for, pensa em mim. Isto ajuda quando vem de um homem que não é nem azedo, nem triste, nem perfeito, nem feliz, nem sempre irreperensivelmente justo. Mas tão bom rapaz e tão cordato e tão inquieto e tão crente.
(...)".
Vincente Van Gogh - Cartas a Theo (Barral Ed. - Barcelona - pp. 328-329

Bailarina Espanhola

Como um fósforo na mão, branco,
antes de se inflamar, expele
para os lados línguas palpitantes-:
começa na roda estreita dos que vêem,
rápida, clara e quente,
a alargar-se fremente a dança redonda.

E de repente faz-se chama toda inteira.

Com o olhar deita fogo à cabeleira
e súbito faz girar com arte ousada
todo o vestido dentro deste incêndio,
do qual, como serpentes assustadas,
saltam os braços nus, vivos e casacalhantes.

Depois, como se o fogo amortecesse,
junta-o todo e atira-o para longe,
imperiosa e com gesto altivo,
e olha: ei-lo furioso em terra
a chamejar ainda, e não se rende -.
Mas triunfante, segura e com um doce
sorrir de cortesia, ergue o rosto
e apaga-o com pés firmes e pequenos.

Rainer Maria Rilke, Poemas - As Elegias de Duino e sonetos a Orfeu

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Tese e Antítese

No dia 3 de Março de 1878, perto de Hobart, na Tasmânia, morreu David, homem de cor, de idade ignorada mas muito velho.
Vivia só, numa cabana que ele próprio construíra.
Enquanto pôde cultivou uma horta e do que ela lhe dava e da caça tirava o seu sustento.
Diziam que tinha sido antropófago e quando lhe perguntavam que sabor tinha a carne humana ele ria e respondia que era a melhor de todas as carnes.
Concordava com os que diziam que o seu povo era selvagem mas não entendia a razão do extermínio.
Os outros, que não comiam carne humana e tinham um deus melhor que os seus deuses,
afinal tinham feito morrer toda uma raça.

Pedro Silveira.

RETRATO

A Pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele porém não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurava protecção.

Luís Miguel Nava, in Revista Colóquio Letras 104-105, Julho-Outubro de 1988.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A ficção...


"A nossa vida real é, em mais de três quartos, composta de imaginação e de ficção".

Simone Weil

Amaciar tempestades


Quem abriga ventos amacia tempestades.

Dá-me a tua mão.

Dá-me a tua mão

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.


Dá-me a tua mão companheira
Até o abismo de ternura derradeira.


António Gomes Ferreira. Foto de Dorothea Lange