domingo, 20 de setembro de 2009

Casa Velha

pai, mãe, quero a casa velha
onde fostes novos
e eu menina

quero a casa velha
com os dois lá dentro

e eu, pequenina, sossegada
perdida no verde dos campos
e nos passos do vento

quero a casa velha
onde previ o azul
e percorri o rubro até ao pôr do sol

quero a casa velha
quero o cinza da memória
e um noite de lume conversador...

não quero uma casa velha
sombra.

quero aquela casa velha
com as raízes à mostra.

dai-me a casa velha...

Canção de Amor


Como hei-de eu conter a minha alma,
que não toque na tua? Como hei-de eu
erguê-la por sobre ti para outras coisas?
Como eu desejaria dar-lhe abrigo
à sombra de qualquer coisa perdida no escuro
num recanto estranho e repousado,
que não vibrasse com o teu vibrar.


Mas tudo o que nos toca, a ti e a mim,
toma-nos juntos numa só arcada
que arranca de duas cordas um som único.
Sobre que instrumento estamos retesados?
Que músico nos tem na sua mão?
Oh doce canção!

Rainer Maria Rilke
Poemas As elegeias de Duino e Sonetos a Orfeu
o oiro do dia

O Olhar


Há contudo um lugar onde a paixão
se esconde para explodir: o olhar

Eugénio de Andrade.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desconstruções * 6 / As Paredes


Quantas pessoas podem as paredes sequestrar, violentar, esquartejar, silenciar, sem que na Luz se oiça?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma Ária de Pão


Como sinal de fogo
sobre a terra

ergue setembro
a evidência do rosto

Tarda a promessa das águas
sob o ventre

Uma flauta escolhe a mulher
desabitada, vigia

A cinza nos celeiros

Uma ária de pão
como fio de sangue na boca

derramado

Vergílio Alberto Vieira, in a idade do fogo
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