quinta-feira, 27 de março de 2014

quando a ave disser o teu nome...





Aproximava-se a linha mais certa da vida, quando ela chegou.
Ela tinha medo que o medo dele fosse insuportável.
Toda a dor que ele pudesse ter, agora, naquela fragilidade, era um inferno nela.
Foi quando ela se lembrou da imagem das margens ou das fronteiras.
- Lembras-te quando foste a salto para França, e o "passador" ameaçou deixar-te no meio dos Pirenéus sozinho?
Ele respondeu-lhe: que aves voam do outro lado? Como vou saber que é Primavera?
Ela. Talvez quando o vento florir a pedra. Ou, a ave que nunca viste disser o teu nome.
 
PM
 
 
 
 

1 comentário:

Anónimo disse...


A Morte, esse Lugar-Comum É trivial a morte e há muito se sabe
fazer - e muito a tempo! - o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...

A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...

Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'