segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um melro construido de memória.


O amarelo do bico tráz a plumagem negra,
azeviche
Já não se diz azeviche
Dizia o meu avô, se não o dissesse o melro não ficava completo
Azeviche, Substância mineral muito negra e luzidia
O melro, os olhos redondos e vigilantes
Dentro do olho um homem com uma espingarda
E no ouvido um som seco
Um estoiro-eco que faz as pernas nervosas,
aos saltos
O melro a agir como se me roubasse as amoras
Sem ter meio de entender que a amoreira plantei-a para ele lá ir comê-las
No pretexto do seu amarelo e azeviche
E de ouvi-lo
A sua glória. Onde luta pelo direito de Mozart na flauta mágica.
E ele vê-me e voa, noutra glória
Sou a dona das amoras
Pareço-lhe o homem no fundo do seu olho
Eu, o melro e o azeviche, quantos mal-entendidos!

PM

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