Devemos ser suaves, suaves, suaves uns com os outros, porque somos muito frágeis...
segunda-feira, 31 de maio de 2010
simetricos e exactos
domingo, 16 de maio de 2010
schiuuu
sábado, 15 de maio de 2010
diálogo ao fim na tarde
sexta-feira, 14 de maio de 2010
se isto não é sexo...

- Que é isto?
um estacionamento em que nada fazia sombra em nada, candeias à pesca ao longe, sempre duplas, a da traneira e a da água, a primeira para cima e a segunda para baixo semando a solidão de damas de copas, um carro melhor que o nosso a oscilar para a frente e para trás também de faróis apagados a impedirem que os toiros o vissem, um dos meus pés torcia-se contra o volante, a alavanca das mudanças trilhando-me os rins, um dos rins, enfim o que julgo um dos rins, o do lado oposto amolgava-se no relevo do banco, o meu corpo feito de peças escessivas que estorvavam, nunca esperei que o mar tanto cotovelo que me rasgava a blusa, estou de acordo consigo mãe, que é isto, a minha mãe a aumentar as nódias esticando o tecido
- Não repitas o que eu digo
de boca a tremer no sofá estudando a roupa a aproximá-la do nariz, eu
- Vai assoar-se a mim?
e na altura em que o mar se calou o meu marido calado, mais novo do que parecia antes, a desmoronar-se com palmas que não lhe pertenciam
(pouco lhe pertencia na sua aflição)
ou antes a desamarrotar o que fizemos a fim de supor que não fizemos nada
- Palavra de honra que não fizemos nada
embora a minha mãe
- Que é isto?
não fizemos nada, se ao menos os cavalos regressassem à praia e as sombras pisando o que a vazante deixou, caniços, óleo, algas, uma asa de bilha, o meu marido...
António Lobo Antunes
Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?
PRIVATIZE-SE A NUVEM. PIM.

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148
quarta-feira, 12 de maio de 2010
mundo pequeno

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
Manoel de Barros,
O Livro das Ignorãças
quarta-feira, 5 de maio de 2010
o olhar que te dá asas

podes correr o mundo todo
que as tuas mãos
nunca se hão-de saciar de luz
podes até voar daqui para fora
e traçar um caminho até ao sol
que nehuma estrela há-de extinguir
a tua escuridão
nem atenuar esse universo
infinito e fluorescente
como o teu olhar
que te dá asas
Daniel Gonçalves
rumores
para a transparência do silêncio
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