Maria.
-Dizes-me tu, Salomé, o que é um amor impossível?
Salomé.
- Não posso dizer-te nada sobre amores impossíveis,
Nunca vivi nenhum. Vivi amores de minutos, de horas, de dias,
e de anos. Nunca nenhum impossível.
Todos eles tiveram, o seu início,
o seu clímax e o seu fim.
Maria.
- Vês as coisas de forma muito prosaica.
Esses amores de minutos, de horas ou de dias,
porque não tiveram continuidade?
Salomé.
- Ninguém os quis agarrar.
Não tinham suficiente alarme, emergência, estado de sítio,
recolher obrigatório, paixão, rebelião, fogo, sentido,
desespero, loucura, para ultrapassarem o tempo exacto que duraram.
Maria.
- Procurei nos livros. Visionei nos filmes. Sondei os amigos.
Falei comigo a sós, mas nada descobri.
Salomé.
- Mas, e o que soubeste, de toda essa busca?
Maria.
- Uns diseram-me que um amor impossível é o que não tem futuro.
Outros, que é aquele que encontra tantos encolhos,
que os amantes dele desistem.
Outros contaram histórias de amores
sem maçãs, nem laranjas, nem pão, nem cores,
que nasceram e morreram em vão.
Salomé.
- Ficaste com respostas?
Maria.
- Não. Mas... procurava a escada do vento e o rastilho do fogo!
Salomé.
- Sim, vejo! Eu penso que não há "amores impossíveis".
O amor cresce com a força com que agarramos,
o que temos e o que nos damos
e com o modo com que nos bastamos e respeitamos.
Cada amor é a união da força solar primitiva
que converge de duas pessoas e é também
a circunstância de nele conviverem essas pessoas
irremediavelmente distintas e sós.
Maria.
- Queres tu dizer que o amor se constrói todos os dias?
Como algo que nunca está perfeito?
Como um caminho, a que não se conhece o rumo?
Salomé.
- O amor é exactamente como o caminho. Faz-se caminhando.
Maria.
- Estou no princípio de um caminho.
Alevantada por um vendaval de loucura.
E a única certeza que tenho
é a da convergência das forças repelentes,
que me acabaste de mostrar.
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