segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Anjo


Disseste-me palavras tão sumidas
Como as estrelas pelo nevoeiro.
Se eu fosse o vento
Ou um tiro certeiro...
E, contudo, eu preciso de chegar
E tornar-me
(Para além da folhagem deste carme)
Qualquer coisa com asas e sem medo;
De contrário, o fracasso
Do meu cavalo atordoará o espaço
e o seu aumento aumentará o segredo.
Sabes, anjo, o que eu quero
Ao menos?
Não é fazer dos poços oceanos:
É uma luzinha que me faça amar
A luz que não acaba de estoirar.

António Cabral, In o mar e as águias

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