e o campo até ao horizonte possível
explode em violeta e azul, dedos florescem
para as delícias do tacto num vibrátil
orvalho. Imagina
que eu parti e o ar impregnado de mim
queima; ou o horizonte se tornou num duvidoso pousio,
retráctil, sem gosto nem cheiro, apesar de os lagos
a si atraírem o voo predador de fulminantes aves, e o receio
seca a boca. Imagina esse género de pânico:
flores envolvidas ao contrário, tu: solitária, imagina
o Mundo cego. Imagina que me resguardarei
dentro das minhas próprias veias
no esquecimento de tal ausência a brotar
em tons rubros, borbotões sobre ti. O campo
o campo, o campo, o campo...
Agora
imagina (é sábado) toquei-te
por assim dizer demasiado...excessivamente,
ao nível onde o ventre cristaliza o vidro
do coração, ou abaixo, no preciso
sitio do nome, teu
medieval nome. E despes o género feminino desse elmo,
num gesto descobres o perfume sob
a cota leonina de uma dança, um feitiço, isso, agora
que é um magnífico sábado permanente, imagina
Cintilações de uma vertigem trágica rasgam
o peito à aventura, a horizontes incontornáveis.
Pela margem da cultura a mim chegaste
e agora, bem, agora
é a galhofa de jogar às escondidas, a refeição
doméstica, o vestir, o calçar, fantasia de tantos pequenos nadas,
entradas subterrâneas, saídas de leão
directas à turbulência do astral. Imagina,
amizade me pediste-dou-te a Noite,
o alvor, sua leve frescura, intactas tardes. Agosto
existe
só para consolidar-nos
contra o cerco
de inumeráveis aguas sujas no subúrbio da inteligência.
E tarde é para ter juízo e cedo...ah cedo o medo
nos surpreenderá, de pueril. Eles ignoram
a autêntica demência de como
sábado nos entrou nos ossos e não sai: toco-te, escalda-
ou apenas o motor da ternura
apela a um ritmo menos trepidante? Um amor
que se vai adivinhando e, adivinhando
também, indica o trilho do Amor.
Paulo da Costa Domingos, in Espacio/Espaço escrito (revista de literatura en dos lenguas)
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