quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

seguir o vôo da ave...

Pintura de Vieira da Silva

Saí de casa na madrugada. Levava na ideia caminhar sem destino certo, avançando ao sabor do encontro e desencontro dos caminhos.
Pensei apenas em caminhos de terra vermelha, solta, e macia, caminhos por onde ninguém tivesse passado, abertos por mim na hora.
Caminhei por entre campos, matas, bosques e florestas. Dormi ao relento, ao frio e ao calor.
Sei que me proponho caminhar para sempre, porque é o único destino que me apraz.
Não me quero sentar muito tempo, nunca mais. Nem saber o preço das coisas que se compram, nem quanto ganham as pessoas, nem que bens tem o dono dos sítios por onde passo.
Satisfaço-me com o encontro do caminho e com a alegria de o fazer.
Posso seguir o vôo de uma ave, decidir endireitar o pé de uma árvore jovem, na floresta, ou dormir embalado pelo mar todo um dia.
Não tenho pressa. Não tenho dever. Não conheço ninguém. E nada espero.
Já não tenho sapatos e as roupas que uso já não são minhas.
A minha alegria é caminhar e surpreender-me com a caminhada.
Vivo de quase nada. Os meus olhos cresceram, memória das visões de tantos mundos.
As minhas mãos encolheram, não precisam de afastar, ter ou recolher.
Estou finalmente só
Eu...

P.M.

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