domingo, 3 de abril de 2011

Carlinho Besouro

Nasceu quieto.Branco.
Calado.
Olhos sem luz.
Tudo presságios.
Maus.
Outros, seus pares, aprendiam a escrever, a contar, a ler.
Ele rimava besouros com garrafas.
Flores com campos.
Meninas com sorrisos.
Outros aprendiam equações matemáticas, geografia, biologia.
Ele metia besouros nas garrafas.
Flores nas orelhas.
Olhos nas meninas que sorriam.
Contava os besouros no fim da jornada
e histórias épicas sobre bebedeiras de besouros.
De largo sorriso, oferecia as garrafas rimadas com besouros

às flores preferidas do seu coração.
Nesta inocentez foi escondido pelos pais, nos dias festivos.
Não viu casamento ou baptismo de irmão.
Nesses dias, deambulava com fome.
Comia flores, engarrafava besouros.
Bebia água nas fontes públicas.
Um dia, já homem, foi trabalhar
nas obras.
Passou um besouro.
Foi atrás dele.
A prancha não era o campo.
A planura ficava lá muito em baixo.
Esqueceu-se das alturas.
Voou por ali abaixo perfeito besouro.
Acabou no fundo do andaime.
A cara esborrachada na garrafa.
E os besouros aflitos, a rodá-lo...



PM

1 comentário:

Carlinhos do Amparo disse...

Um poeta...
Senti-me em queda livre com ele.

Lindo poema.