Devemos ser suaves, suaves, suaves uns com os outros, porque somos muito frágeis...
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
As Palavras
A árvore das palavras. mundopessoa.blogs.sapo.pt
(...)
as palavras identificam-se com (...) a espessura azul das árvores acesas pelos faróis
o rumor verde
(...)
Há palavras carregadas de noite e de ombros surdos
e há palavras como giestas vivas.
(...)
As plavras são por vezes um clarão no dia calcinado.
(...)
António Ramos Rosa.
haikai
I.
Sob a névoa da manhã
a teia de aranha
filigrana de prata.
II.
No inverno
azul anil no céu
branco arminho na terra.
III.
É primavera
madrugada dentro
poesia de pássaros.
PM
Sob a névoa da manhã
a teia de aranha
filigrana de prata.
II.
No inverno
azul anil no céu
branco arminho na terra.
III.
É primavera
madrugada dentro
poesia de pássaros.
PM
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
A mulher que passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
domingo, 25 de dezembro de 2011
Natal
Neste caminho cortado
Entre pureza e pecado
Que chamo vida,
Nesta vertigem de altura
Que me absorve e depura
De tanta queda caída,
É que Tu nasces ainda
Como nasceste
Do ventre da Tua mãe.
Bendita a Tua candura.
Bendita a minha também.
Mas se me perco e Te perco,
Quando me afogo no esterco
Do meu destino cumprido,
À hora em que Te rejeito
E sangra e dói no Teu peito
A chaga de eu ter esquecido,
É que Tu jazes por mim
Como jazeste
No colo da Tua mãe.
Bendita a Tua amargura
Bendita a minha também.
(Reinaldo Ferreira)
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
talvez mais tarde amanheça
A tarde chegou cinzenta e parda e trazia no vento torvelinhos de desgraça.
Os velhos avisados de outras tardes aconselhavam os novos a guardarem-se.
E as mulheres a esconderem-se.
O infinito entrançado do nevoeiro lançava o mesmo aviso lamuriento e gélido.
O vento esticava o nevoeiro em tiras longas como fiapos de pano.
E estes formavam imagens de fantasmas suspensos no vazio.
Não havia casas, árvores, rios ou estrelas.
Tudo estava camuflado naquele imenso aperto de cinzento.
A vida suspendeu-se.
A esta hora chega a noite e a tarde confunde-se com ela.
Talvez mais tarde amanheça….
P.M.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
arrumado em todos os aspectos...
Nada fazia prever - principalmente porque Pegeen Mike Stapleford vivia como lésbica desde os vinte e três anos - que quando ela tivesse quarenta anos e Axler sessenta e cinco se tornassem amantes que se telefonariam todas as manhãs ao acordar e sofregamente passariam juntos o tempo livre em casa dele, onde, para gáudio dele, ela se apropriou de dois compartimentos para seu uso, um dos três quartos de dormir no primeiro andar para as roupas e o escritório do rés-do-chão, ao lado da sala de estar, para o portátil. Havia lareiras em todos os compartimentos do rés-do-chão, mesmo na cozinha, e quando Pegeen estava a trabalhar no escritório tinha sempre a lareira acesa. Vivia a pouco mais de uma hora de distância dali, percorrendo estradas de montanha sinuosas e onduladas, por entre campos de cultivo, que a traziam até à propriedade dele, vinte e dois hectares de campo aberto e uma grande e antiga casa de campo branca com portadas pretas, emoldurada por plátanos antigos e grandes freixos, e muros altos de pedra tosca. Não vivia ninguém, além deles, nas redondezas. Durante os primeiros meses raramente saíam da cama antes do meio-dia. Não conseguiam estar um sem o outro.
E no entanto, antes de ela chegar, ele tinha a certeza de estar acabado: acabado para o teatro, acabado para as mulheres, para as pessoas, definitivamente acabado para a felicidade. Estava há mais de um ano com graves problemas físicos, mal conseguindo dar dois passos ou estar muito tempo de pé ou sentado, por causa das dores da coluna que tinha conseguido suportar durante toda a idade adulta mas cuja evolução debilitante se tinha acelerado com a idade - e portanto tinha a certeza de que estava arrumado em todos os aspectos.
Philip Roth, A Humilhação, Ed. Dom Quixote, 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
para a mãe, hoje
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
Antoine de Saint-Exupéry
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